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sábado, julho 16, 2011

Clínicas de fertilização procuram: negros, orientais e loiros

Falta de doadores de sêmen e óvulos com
características mais restritas compromete inseminação
Fernanda Aranda, iG São Paulo

Os milhares de quilômetros percorridos entre Angola e Brasil, a procura insistente para encontrar uma moradia em terras brasileiras e os R$ 20 mil investidos só no tratamento de fertilização in vitro não foram os únicos obstáculos enfrentados por S.C, 41 anos, para realizar o sonho de engravidar.
A professora e angolana que há 12 anos tenta, sem sucesso, a maternidade depende agora de mais quatro coincidências em série para que a sua inseminação artificial - que depende da doação anônima e voluntária de óvulos de outra pessoa - seja concretizada.
 “Por ser negra e ter um companheiro negro, com pouca miscigenação de outras etnias familiares, precisamos que a doadora de óvulos seja negra (e não mulata) também, um direito que a paciente tem para constituir uma família parecida com ela”, explica Edward Carrilho, médico da clínica Engravida, em São Paulo, onde S.C faz tratamento.
Além da semelhança da cor da pele, é preciso que a doadora de óvulos excedentes tenha menos de 35 anos, aceite fazer a doação sem cobrar um real por isso e ainda tenha outras compatibilidades com a receptora, como tipo sanguíneo e ausência de doenças genéticas nas famílias.
A sincronia de particularidades garante a segurança da gestação artificial que envolve doação de sêmen e óvulos, mas faz com que as clínicas de reprodução assistida clamem por mais doadores negros, orientais e loiros de olhos azuis, escassos entre os já escassos que aceitam doar.
“Temos cerca de quatro doadores de sêmen novos por mês (maioria moreno, de olhos castanhos e estatura mediana) e como também fornecemos (o material) para muitas outras clínicas, este número deveria ser, pelo menos, cinco vezes maior”, faz as contas Edson Borges, diretor da clínica Fertility. “As raças mais esporádicas no Brasil também são menos frequentes para a doação. Especialmente os orientais são muito raros pois, além da esporadicidade, eles doam menos”, complementa.
Pela legislação brasileira, os doadores de sêmen e óvulos precisam ser totalmente altruístas, ou seja, não há nenhuma recompensa material (dinheiro, brindes ou outros benefícios) pela doação. O ato também é anônimo e a garantia é de nunca revelar a identidade dos envolvidos.
Os homens, explica Vera Brant - diretora do maior banco de sêmen brasileiro, o Pro-Seed - devem comparecer ao menos seis vezes para doar o sêmen, passam por uma bateria prévia de exames clínicos e psicológicos e só então são classificados como aptos para serem doadores.
“Aprovamos entre um e três doadores por mês.
O ideal, para trabalharmos com tranqüilidade,
precisaria ser entre seis e oito mensais”, diz Vera.
Hoje no Pro-Seed não há nenhum coreano doador que passou por este processo e apenas dois chineses. “Não adianta só ter olho puxado, sabemos disso, e a demanda de receptores orientais cresce a cada dia. Faltam também os altos de olhos claros e os negros. Estamos fazendo campanhas de divulgação com estes públicos porque já tivemos casais que desistiram da fertilização por causa disso. Não estamos conseguindo suprir.”
Se os doadores de sêmen com características específicas sejam mais restritos, os especialistas enxergam como ainda mais raras as doadoras de óvulos negras, loiras e orientais.
Isso porque, o esperma pode ser congelado e usado até anos depois, quando – por exemplo - o casal “mais específico” e que necessita da doação aparece. Já o material feminino, por mais que a medicina tenha avançado na técnica de congelamento, ainda perde qualidade se armazenado em câmeras frias por muito tempo. Sendo assim, a receptora negra, oriental ou loira de olhos azuis, não raro, precisa esperar por meses para iniciar o tratamento até que a doadora compatível apareça.
Estas especificidades faz com que o médico especializado em reprodução humana do Instituto Paulista de Ginecologia e Obstetrícia (IPGO), Rogério Leão, defenda mudanças na doação de óvulos. “Para ampliar o número de doadores, primeiro deveria haver mais estimulo da população em geral. Muitas pessoas nem sabem que existe esta possibilidade”, acredita Leão. “Além disso, a lei deveria ser mais maleável com a chamada doação compartilhada. Isso consiste em uma paciente que necessita de fertilização in vitro, mas não pode pagar pelo tratamento, ter a opção de doar parte dos óvulos obtidos com o procedimento, em troca de isenção de custos”, explica. “Com isso todos se beneficiariam: a doadora que teria acesso a uma fertilização e a receptora que teria os óvulos de que necessita. Entretanto isso é visto como venda de óvulos, o que é proibido em nosso País”, lamenta.
Compasso de espera
A angolana S.C, que deixou o trabalho de enfermeira em seu país de origem para tentar o sonho da maternidade no Brasil, vive agora em compasso de espera para que a doadora de óvulos compatível apareça. Quando ela surgir, mais esperas serão colecionadas até que a gravidez seja confirmada, sendo que o índice de sucesso não chega a 60% dos casos.
“Esperar é o que mais aprendi a fazer. Esperei ter dinheiro para o tratamento, esperei os minutos eternos para os resultados dos testes de gravidez comprados em farmácia darem negativo, esperei os médicos da África do Sul, onde também procurei ajuda, falarem que não daria certo a fertilização apesar de não identificarem nenhum problema comigo nem com meu marido. Agora, espero um final diferente na minha história. Tenho 41 anos. Também aprendi que não posso mais esperar tanto.”

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