25/02/2013
- 13:59 - Mundo
Um dia
depois de a imprensa britânica publicar denúncias de assédio contra o líder da
Igreja Católica na Escócia, o cardeal Keith O'Brien foi destituído de suas
funções. O religioso, que nega as denúncias, divulgou um comunicado informando
que havia pedido em novembro sua renúncia ao Papa, já que completa 75 anos no
dia 17 de março. No mesmo comunicado, O’Brien disse que Bento XVI, no entanto,
decidiu que sua destituição vigorasse a partir desta segunda-feira. O cardeal,
acusado por padres de atos impróprios, pediu desculpas e decidiu não ir ao
conclave que escolherá o novo pontífice para não atrair a atenção da mídia.
“Pelo bem
que eu tenha feito, agradeço a Deus. Por qualquer falha, peço desculpas a quem
eu tenha ofendido”, escreveu O’Brien. “Não vou me unir pessoalmente a eles (ao
restante dos cardeais) no conclave. Não desejo que atenção da mídia se
concentre em mim, e não no Papa Bento XVI e em seu sucessor.”
O cardeal
informou que estava buscando conselhos legais. Ele foi acusado por outros três
religiosos de assédios sexuais nos anos 80. Com sua decisão, o Reino Unido não
terá representante no conclave.
O
comunicado não cita quais seriam as causas que levaram a renúncia de O'Brien.
No entanto, analistas do jornal “El País” afirmam que uma leitura mais
detalhada do texto mostra que a decisão de saída do religioso antes da data do
seu aniversário teria vindo do Papa. A nota diz que o escocês pediu renúncia
meses atrás, e que o Pontífice aceitou a solicitação em 13 de novembro de 2013,
mas com “efeito posterior”.
A data da
saída de O'Brien estava marcada para 17 de março, coincidindo com seu
aniversário. No entanto, Bento XVI decidiu que a renúncia começava a valer a
partir desta segunda-feira (25 de fevereiro).
“O Santo
Padre decidiu agora que a minha saída tem efeito hoje, dia 25 de fevereiro de
2013, e nomeará um administrador apostólico para governar a arquidiocese em meu
lugar até que seja nomeado o meu sucessor como arcebispo”, disse O'Brien, na
nota, acrescentando que irá “rezar com eles (cardeais) e por eles para que,
iluminados pelo Espírito Santo, façam a escolha correta para o futuro da
Igreja”.
O'Brien
continua com o título de cardeal, mas destituído de todas as suas funções. Sua
saída, após alegações de comportamento inadequado, cria uma crise para a Igreja
Católica na Escócia e representa um duro golpe para a Santa Sé em geral, uma
vez que a instituição luta para consolidar a sua reputação antes da eleição
papal.
O cardeal
era também conhecido por suas críticas a união homossexual, mas por defender
que a Igreja liberasse o casamento de padres.
Denúncias contra O’Brien
No fim de
semana, três padres e um ex-religioso da diocese de St. Andrews e Edinburgh
denunciaram ao representante do Papa no Reino Unido, Antonio Mennini, uma série
de supostos “comportamentos não apropriados” de O’Brien nos anos 80.
Um
ex-religioso afirma que o cardeal fez uma “investida inapropriada” contra ele
em 1980, quando a suposta vítima era um seminarista no St. Andrew's College, em
Drygrange. Segundo a denúncia, os dois haviam terminado orações noturnas no
momento.
- Todos
pensaram que deixei o sacerdócio para poder me casar. Mas a realidade é que
deixei a batina para preservar a minha integridade. Precisei frequentar um
psicólogo depois do que aconteceu - disse a primeira vítima, que não foi
identificada, ao “The Observer”.
No
testemunho da segunda suposta vítima, um sacerdote conta que estava deixando
uma paróquia quando foi visitado por O'Brien, quando um “contato inapropriado”
aconteceu entre os dois. O terceiro denunciante afirma que também foi alvo de
uma investida, após ter bebido um pouco com o religioso em uma noite. O quarto
padre queixante diz que o cardeal usava orações noturnas como desculpa para o
assédio.
Na semana
passada, outros cardeais sofreram acusações sobre atos impróprios e a imprensa
italiana especulou se a saída do Papa teria a ver com a divulgação de um
documento chamado Vatileaks. Bento XVI realizará sua última celebração na
quarta-feira, dia 27.
Fonte: O Globo
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