Passados
50 anos da criação do primeiro medicamento contra a tuberculose, surge novo
tratamento que promete trazer esperança a milhões de pessoas infectadas.
"Bedaquilin" atua até mesmo nas bactérias mais resistentes.
A
erradicação da tuberculose parece uma meta ainda distante de ser alcançada.
Todos os anos, cerca de 9 milhões de pessoas são infectadas pela doença, e o
número de óbitos chega a 2 milhões. A fim de chamar a atenção para o problema,
em 1982 a Organização Mundial de Saúde (OMS) e a União Internacional Contra
Tuberculose e Doenças Pulmonares lançaram o 24 de março como o Dia Mundial da
Tuberculose. A data remete à descoberta, cem anos antes, do bacilo causador da
doença pelo médico alemão Robert Koch.
A
tuberculose é causada pelo bacilo de Koch, Mycobacterium tuberculosis, que pode
atingir todas as partes do corpo – mas em 80% dos casos o pulmão é o principal
afetado. Assim como o vírus do HIV, a tuberculose enfraquece o sistema
imunológico e os bacilos da doença se multiplicam rapidamente.
O tratamento
é lento e utiliza medicamentos criados na década de 60. Só agora, depois de 50
anos, surge uma nova esperança para os pacientes de tuberculosos: o Bedaquilin.
O medicamento foi aprovado em janeiro nos Estados Unidos pela agência
norte-americana que regula alimentos e medicamentos, a FDA.
Marco
contra a tuberculose?
Para o
médico Tom Schaberg, professor e membro do Comitê Alemão da Luta contra a
Tuberculose (DZK, sigla em alemão), a nova droga ainda não pode ser considerada
uma descoberta revolucionária, mas sim, um novo mecanismo de ação. "É um
grande passo para o tratamento da tuberculose. Esta nova droga vai atuar onde
ainda há resistência a outros medicamentos", afirma Schaberg. Fundado em
1895, em uma época que a tuberculose era uma doença comum na Alemanha, o DZK é
atualmente umas das organizações mais influentes no assunto.
O
Bedaquilin inibe a produção de uma enzima importante para o ganho de energia
das microbactérias e, assim, elas morrem. O medicamento funciona até mesmo em
bactérias ultrarresistentes, que já tinham desenvolvido mecanismos de defesa
contra a maioria dos antibióticos.
Em 1993 a OMS declarou a tuberculose como
emergência mundial
Tratamento
mais rápido
Os
primeiros sintomas da tuberculose, na maioria das vezes, não dão sinais claros
da doença: fadiga, cansaço e depois tosse. Por isso, geralmente, o paciente
demora para consultar um médico, o que aumenta o risco de infecções e permite
com que a doença avance.
O
objetivo da pesquisa é reduzir o tempo de tratamento que, atualmente, dura
cerca de seis meses. "Diminuí-lo para três ou quatro meses seria um grande
passo", diz Schaberg. O importante é que se pode combinar a Bedaquilin com
as substâncias já utilizadas no mercado, pois, para que a doença não desenvolva
resistência, a tuberculose é sempre tratada com um grupo de medicamentos
diferentes.
Como
existe uma variedade super resistente dos agentes da tuberculose, o paciente
precisa continuar o tratamento com uma segunda linha de medicamentos por um
período de dois anos. Oliver Moldenhauer, da organização Médicos Sem
Fronteiras, afirma que nesses casos o Bedaquilin pode dar uma contribuição
importante. "Esperamos que seja um marco no tratamento, mas isso só
podemos afirmar com o tempo. A droga ainda foi pouco usada e, por enquanto, não
dá para dizer que seja um marco no tratamento da tuberculose."
Segundo o
professor Walter Haas, do Instituto Robert Koch em Berlim, o contágio pode
persistir por anos e até mesmo décadas. Para ele, a maior realização na luta
contra a tuberculose seria o desenvolvimento de uma vacina.
Robert Koch ganhou Prêmio Nobel da Medicina
pelo descobrimento da bacilo da tuberculose
Atuação
das ONGs no combate à tuberculose
A nova
droga foi desenvolvida após um trabalho conjunto entre ONGs, uma empresa
farmacêutica norte-americana e a TB Alliance, uma associação composta pela
Organização Mundial da Saúde, a Fundação Bill e Melinda Gates e outras ONGs.
A
associação tem se dedicado nas últimas décadas à luta contra a doença e o
dinheiro coletado é depositado em um fundo internacional de prevenção à
tuberculose, Aids e malária. O apoio ao desenvolvimento desse novo medicamento
contra a tuberculose, de acordo com Scharenberg, foi realizado com a condição
de que a droga seja oferecida a preços reduzidos em países com poucos recursos
financeiros.
Por
enquanto, o novo medicamento está liberado apenas nos Estados Unidos. Em casos
excepcionais, pode ser usado na Alemanha mediante solicitação às autoridades.
"O medicamento é apenas para pacientes em situação crítica, quando não há
mais nada a ser feito", diz Oliver Moldenhauer.
Incidência
no Brasil
Dados do
Ministério da Saúde no Brasil indicam que quase 70 mil pessoas foram
registradas com tuberculose em 2011 no país, e a taxa de óbitos foi de 2,4 para
cada grupo de 100 mil habitantes. Apesar de uma queda de 15% na incidência de
tuberculose na última década, ela ainda preocupa as autoridades brasileiras, já
que esta é a quarta causa de óbitos por doenças infecciosas e a primeira entre
os portadores do vírus HIV.
Autora:
Judith Hartl / Fernanda Azzolini
Edição:
Mariana Santos
DW.DE
TOP 5 –
Cinco doenças que vitimaram milhões de pessoas na história
O
Futurando mostrou que cientistas estudam morcegos para evitar que males como o
ébola sejam transmitidos de animais para homens. Conheça algumas doenças que
dizimaram populações através da história. (08.12.2012)
Novas
tecnologias aceleram e refinam diagnóstico da tuberculose
Durante
Cimeira Mundial da Saúde, realizada no último fim de semana (21.10) em Berlim,
especialistas discutiram diagnósticos mais exatos e mais rápidos da doença que
matou 1,4 milhões de pessoas no mundo em 2011. (22.10.2012)
1882:
Descoberto bacilo da tuberculose
No dia 24
de março de 1882, o médico alemão Heinrich Hermann Robert Koch anunciava a
identificação do bacilo causador da tuberculose. (24.03.2012)
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