Além
de caderno e caneta, talento e dedicação. Esses têm sido os dois itens a mais
na mochila de alguns jovens paraenses da rede pública de ensino, que mesmo em
meio às adversidades, têm alcançado várias conquistas pelo país e até mesmo
pelo mundo com o bom desempenho. Seja na área da educação, da cultura ou dos
desportos, os estudantes paraenses são exemplos daqueles que conseguem se
destacar pelo ensino público do Estado.
Um
deles é Deyvison do Rosário Barbosa, 12 anos, estudante da Escola Madre Zarife
Sales, no bairro do Guamá, que este ano concorre com estudantes de todo o país
aos R$ 100 mil ofertados pelo “Soletrando”, concurso promovido desde 2007 pelo
programa “Caldeirão do Huck”, da Rede Globo. Para ser o representante do Pará
no certame, ele venceu 17 concorrentes de todo o Estado durante as seletivas de
2011.
A
competição começa em março e, para faturar o prêmio, a dedicação aos estudos é
intensa, mesmo durante as férias escolares. São cerca de quatro horas diárias
de estudo em casa. Além das aulas regulares, Deyvison ainda recebe reforço
específico do professores da escola duas vezes por semana. “Gosto muito de
estudar, ler e conhecer palavras novas”, comenta.
Tímido,
Deyvison guarda as palavras para serem pronunciadas – ou melhor, soletradas –
durante a competição. “Ele sempre foi de falar pouco, mas muito inteligente”,
comenta, orgulhosa, a mãe do garoto, Telma do Rosário, relatando que o filho
sempre teve vontade estudar na escola Madre Zarife Sales. Com ajuda de um
vizinho, que é professor na unidade, ela soube da possibilidade de
transferência em regime convênio com a Secretaria de Estado de Educação (Seduc).
Vitória – Outra demonstração de
que talentos estão sendo descobertos no ensino público vem da Escola Estadual
General Gurjão, na Cidade Velha. A língua portuguesa também é o ponto forte de
Melissa Costa do Nascimento, 13 anos, que venceu o concurso de redação do
Tribunal Regional Eleitoral (TRE). A estudante foi a primeira colocada na
categoria de 12 a 15 anos, cujo tema foi “Consciência política, cultura e
cidadania: um futuro em nossas mãos”.
“Nem esperava e quando soube
fiquei muito feliz. Não conhecia direito a estrutura de uma redação, então
minha prima, que já é formada, me ajudou com a ordem que eu tinha que obedecer
ao escrever. Costumamos escrever nas aulas de português, mas o tema era bem
mais profundo, então tive que pesquisar bastante. Esse foi o primeiro concurso
de que participei e, com certeza, é um grande incentivo para me dedicar mais
aos estudos”, afirma Melissa, que mora no bairro do Jurunas e pretende cursar
medicina.
Novas fronteiras
A
estudante Joice Rodrigues Amorim, que concluiu o terceiro ano do ensino médio
na Escola Estadual Albanizia de Oliveira Lima, no bairro do Marco, é a
representante do Pará no programa Jovens Embaixadores 2012, promovido pela
embaixada norte-americana em parceria com a escola de idiomas Centro Cultural
Brasil Estados Unidos (CCBEU). Aos 17 anos, a jovem fará sua primeira viagem ao
país, onde passará três semanas participando de uma extensa programação.
No
roteiro, além da visita à sede do governo americano, a Casa Branca, onde os
jovens serão recebidos pela primeira-dama, Michelle Obama, há ainda paradas em
escolas e projetos sociais. Os estudantes ficarão hospedados em casas de
famílias locais. Para integrar o programa, além do excelente desempenho nos
estudos, Joice teve que preencher uma séria de requisitos, entre eles, estudar
em escolas públicas, falar inglês, comprovar baixa renda e atuar como
voluntária em projetos sociais.
"Essa
é uma oportunidade incrível na minha vida, na qual poderei levar um pouco da
cultura do nosso Estado para fora do país. Quero muito me aprofundar no
conhecimento da língua, aprender sobre a cultura inglesa”, afirma,
entusiasmada, a jovem, que embarcou no último dia 4 de fevereiro para o Rio
Janeiro. De lá, dia 7, ela segue, junto com os demais representantes de outros
Estados brasileiros, para os Estados Unidos.
A
atleta Jéssica de Fátima Rodrigues Alves, 20 anos, da seleção brasileira de
goalball, também já está com as malas prontas para viajar. No próximo dia 21
ela embarca para o Rio de Janeiro, onde se junta com outras atletas para dar
início aos treinos para as Olimpíadas de Londres 2012. Jéssica também foi uma
das representantes paraenses nos jogos Para Panamericanos 2011, em Guadalajara,
no México, onde conquistou a medalha de prata.
Estudante
da Escola Estadual Augusto Meira, em São Brás, Jéssica também é atendida na
Unidade Especializada Álvares de Azevedo, específica para alunos cegos ou com
baixa visão. “Sempre tive muito incentivo da minha escola e dos meus
professores. Como tenho de viajar bastante, eles me ajudam enviando o conteúdo
para que eu possa estar sempre estudando e para não me prejudicar nas provas.
Esse apoio e o da minha treinadora têm sido essencial”, afirma.
Jéssica
conta que o goalbool veio por acaso. “Sempre competia na escola no atletismo,
mas tinha medo de algumas coisas, de não me adaptar. Aí uma vez retiraram a
modalidade que eu disputava e fiquei sem outra para competir. Foi quando a
minha treinadora sugeriu que começasse no goalbol”, conta a jovem, que
coleciona medalhas e troféus do esporte pelo país, entre elas de melhor
jogadora e atleta revelação.
Destaque nas artes
Outro
destaque paraense vem da ponta dos pés de Bianca Palheta, 15 anos, estudante do
Instituto Bom Pastor, onde concluiu a oitava série. No próximo dia 18 ela viaja
para a cidade de Joinville, em Santa Catarina, onde passará a morar para
estudar balé contemporâneo em uma das mais renomadas escolas dança e arte do
mundo, a Escola de Teatro Bolshoi. Ela participou da audição em Santa Catarina,
em julho do ano passado, concorrendo com mais de 400 candidatos do Brasil e do
exterior. Apenas ela e outros oito candidatos foram selecionados.
“Estudo balé desde os 7 anos, mas
sempre na linha clássica. Somente em 2010 comecei a praticar o contemporâneo. A
identificação com o estilo foi imediata. Acho que foi por isso que acabei sendo
aprovada para o curso. Faço aulas todos os dias e lá não vai ser diferente. Vou
me esforçar bastante porque é uma oportunidade incrível e única. É uma das
melhores escolas, muita gente queria poder estudar lá”, comenta a jovem, que
também destacou o incentivo de sua professora Edith Marques para a conquista.
Da
música, a tradição de revelar talentos vem sido mantida pela Banda Sinfônica
Lauro Sodré. Em 2004, sob a coordenação de Kelly Mesquita e do maestro Silas
Borges, que está há 27 anos à frente dos músicos, o grupo desenvolve o projeto
“Educando através da música”, que atualmente atende mais de 1,2 mil jovens de
escolas da rede estadual de ensino.
Este
ano, a banda Lauro Sodré completa 140 anos de história, com muitas conquistas
no currículo, entre elas o pentacampeonato no Concurso Nacional de Bandas e
Fanfarras, ocorrido na cidade de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul. Entre os
mais de 100 troféus estaduais e nacionais, o mais recente é a conquista da IV
Copa de Bandas e Fanfarras Enviro-Chemie, na cidade de Santa Fé, no Paraná.
Incentivo – Em meio a tantos
destaques e exemplos de superação, o governador Simão Jatene sancionou dia 29
de dezembro de 2011 a Lei n°7.583, que instituiu o Prêmio Jovem Talento
Paraense para as escolas da rede pública estadual, que contempla os alunos que
se destacarem com notável desempenho, em âmbito nacional e internacional, nas
áreas de educação, cultura ou desportos.
“A Seduc, na própria proposta
pedagógica de oferecer a educação enquanto bem social, busca contribuir para
desenvolvimento desses talentos. O próprio cotidiano de uma escola pública de
mais liberdade e flexibilidade também contribui para que se construa um
ambiente favorável ao desenvolvimento desses talentos, sobretudo nossos alunos
mais carentes, já que eles, muitas vezes, não têm outro espaço para desenvolver
suas habilidades”, explica o diretor de Educação de Ensino Infantil e
Fundamental da Secretaria de Estado de Educação (Seduc), Luiz Miguel Queiroz.
A
indicação para o prêmio será proposta ao governador por um comitê integrado por
titulares das secretarias de Educação (Seduc), Cultura (Secult) e Esporte e
Lazer (Seel). O prêmio consistirá em diploma, medalha distintiva e bolsa
integral por um ano, no valor de um salário mínimo, desde que o aluno permaneça
matriculado em escola pública.
Texto:
Luiz Carlos-Secom
Nenhum comentário:
Postar um comentário