Uma
educação bilíngue, que respeite as características de seu povo e o ajude a ter
autonomia. Com esses anseios, a primeira turma do Curso Normal em Nível Médio
de Magistério Indígena, ofertado pela Escola Itinerante da Rede Pública
Estadual de Ensino, formada por índios Tembé, concluiu na manhã de sexta-feira
(10) sua formação. A cerimônia de formatura foi realizada na Aldeia Sede do
Alto Rio Guamá, às proximidades do município de Capitão Poço (nordeste do
Estado), e reuniu cerca de 200 pessoas, entre lideranças indígenas, autoridades
e estudantes.
Os 14
formandos são indígenas residentes nas aldeias São Pedro, Iarape, Frasqueira,
Tawari e Ituwaçu. O objetivo do magistério indígena é formar professores para
que atuem nas quatro primeiras séries do ensino fundamental, ministradas em escolas
localizadas nas terras indígenas do Alto Rio Guamá, Alto Turiaçu e Turé
Mariquita, beneficiando mais de 500 estudantes.
Raimundo
Nonato Tembé, 40 anos, já ministra aulas na escolas de sua aldeia e foi o
orador da turma. “Eu tenho orgulho de ser Tembé porque o sangue que corre em
minhas veias é Tembé, e passa, há séculos por nossas famílias, para que
existíssemos até hoje. Lutamos, há mais de 300 anos, para vencer a
discriminação e para conquistar nossa autonomia. Esse certificado que estamos
recebendo agora é mais um passo, mas ainda temos muitos desafios pela frente”,
declarou, acrescentando “que é preciso continuar os estudos para sermos nossos
professores, enfermeiros e médicos”.
Ensino Superior - No próximo mês, estudantes indígenas do
Alto Rio Guamá farão a prova do primeiro Processo Seletivo para o curso de
Licenciatura Intercultural Indígena, ofertado pelo campus da Universidade do
Estado do Pará (Uepa) no município de São Miguel do Guamá. Esse será o primeiro
curso específico para indígenas ofertado no Estado.
Em todo
o território paraense residem 55 diferentes povos indígenas. Atualmente, cerca
de 11 mil estudantes índios estudam em escolas públicas municipais e estaduais,
onde cursam os ensinos fundamental e médio. De acordo com Aldeíse Gomes,
diretora de Educação para Diversidade, Inclusão e Cidadania da Secretaria de
Estado de Educação (Seduc), outras seis turmas com 326 indígenas de 45 povos
cursam o Magistério Indígena nos seguintes polos: Altamira, Capitão Poço,
Marabá, Oriximiná, São Félix do Xingu e Santarém.
O curso
é dividido em quatro séries. Além das disciplinas pedagógicas do magistério
tradicional, os professores indígenas também estudam História da Educação
Indígena, Antropologia, Linguística Aplicada e Língua Indígena. “Este é um
momento histórico para a educação escolar indígena no Pará. Reconhecemos a luta
deste povo que foi incessante para que hoje estivéssemos aqui. Estamos diante
de um direito conquistado, garantido e respeitado”, afirmou Aldeíse Gomes.
Texto:
Mari Chiba-Seduc