Uma manifestação pública na manhã deste sábado (10) teve
como objetivo pressionar a Companhia Docas do Pará (CDP), para rever o projeto
de implantação de um parque de contêineres, que, entre outras consequências,
prevê a retirada dos galpões 11 e 12 do Porto de Belém, ambos remanescentes da
arquitetura de ferro do início do século XX e tombados pelo Estado, dada a sua
importância histórica. Os manifestantes fizeram uma caminhada, que saiu da CPD
em direção a Escadinha do Ver-o-Peso.
Segundo a diretora do Departamento de Patrimônio Histórico,
Artístico e Cultural da Secretaria de Estado de Cultura (Secult), Thais
Toscano, o projeto é bastante complexo e fere o Estatuto da Cidade, afetando
toda a estrutura viária e de tráfego da área central de Belém. A desmontagem
dos galpões faz parte da primeira etapa do Plano de Desenvolvimento e
Zoneamento da CDP, que tem como objetivo ampliar a área já existente,
comprometendo a área no entorno da CDP. De acordo com o plano, a atual rua Rui
Barata seria suprimida e outra via seria aberta no local onde hoje se encontra
um prédio particular. “Isso significa a supressão de vias, parcelamento de
quadras, mudanças de uso afetando toda a rotina da população. A operação é
complexa e precisa ser discutida não apenas pelos órgãos competentes, mas por
toda a população”, explica Thais Toscano.
Um dos objetivos da manifestação foi alertar a população
para o projeto, que está em vias de ser implantado, sem qualquer zelo ao
patrimônio histórico. O pregão de desmonte publicado no último dia 29, não se
refere em momento algum a catalogação das peças, o que segundo Thais Toscano é
procedimento obrigatório por se tratar de um patrimônio tombado. “Eles tratam o
assunto como se fosse uma estrutura contemporânea, passando por cima de toda a
importância histórica e arquitetônica dos galpões”, critica.
A licitação para o desmonte foi embargada pelo Dephac e
nesta segunda feira (12) o deputado estadual Zenaldo Coutinho deve ingressar
com uma ação judicial para impedir definitivamente o processo de retirada dos
galpões. Segundo o parlamentar, com o projeto a capacidade do porto iria
triplicar, multiplicando também a quantidade de veículos pesados no centro da
cidade, comprometendo vias arteriais como as avenidas Marechal Hermes e Pedro
Álvares Cabral. “Não houve discussão com a sociedade. Ninguém foi consultado.
Inclusive, os interessados chegaram a divulgar que a utilização seria apenas
por meio fluvial, o que na realidade é impraticável”, ressalta Zenaldo
Coutinho.
O Secretário de Estado de Cultura, Paulo Chaves, esteve
presente à manifestação e demonstrou toda a sua indignação em relação ao
descaso com que a CDP vem tratando a questão. “Evidente que só pela memória
histórica esse projeto é totalmente inviável. Mas não é só isso. A ampliação
irá provocar um verdadeiro caos no centro da cidade”, alerta o secretário. Os
galpões 11 e 12 foram tombados pelo estado em 2000 e integram o Conjunto
Arquitetônico Paisagístico do Porto de Belém. As estruturas de ferro são
datadas de 1906, quando o porto foi aberto à navegação internacional.
Texto:
Danielle Ferreira-Secom
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