Se por
um lado o governo está investindo na repressão ao tráfico de drogas, por outro
está reforçando a estrutura de atendimento e apoio aos usuários de
entorpecentes e seus familiares, seja implantando estruturas de atendimento ou
fortalecendo as unidades terapêuticas já existentes. Foi o que aconteceu com a
Fazenda Esperança, que fica em Bragança e trabalha na recuperação de 25 jovens
dependentes químicos, que se dedicam a atividades como plantação, jardinagem,
criação de pequenos animais e artesanato como terapia de recuperação. A Fazenda
Esperança recebeu uma padaria para auxiliar na alimentação e renda dos
internos. Foram investidos R$ 21 mil para a implantação da padaria e
capacitação da mão de obra. Os internos passaram por um treinamento e já
fabricam pães, salgados e biscoitos, que são usados na alimentação da fazenda e
também são comercializados na cidade de Bragança.
O
trabalho de recuperação da Fazenda Esperança é baseado na liberdade e
responsabilidade. O espaço é livre e o interno não está preso. “É preciso que o
dependente queira a recuperação. Aqui ele é um homem livre, inclusive para
concluir ou não o tratamento. Nós damos as ferramentas, mas é ele quem decide”,
explicou o padre Carlos Afonso, coordenador da Fazenda Esperança. Para o padre,
a padaria, que recebeu o nome “Pão da Esperança”, atua também como laboterapia
entre os internos. “É muito bom ver que o governo acredita no nosso trabalho e
que estava interessado em investir em algo que se adequava ao nosso modo de
trabalho. A padaria, além de gerar renda, também funciona como terapia
ocupacional, incentiva a responsabilidade e também profissionaliza o interno
para o mercado de trabalho lá fora”. O interno Renan Machado, 24 anos, de
Campos do Jordão, em São Paulo, acredita que a padaria fortalece sua autoestima
e é garantia de ajuda para a sua família.
“Vendo o resultado do meu trabalho me sinto mais confiante em continuar
o tratamento e seguro em saber que agora tenho uma profissão para manter a
minha família”.
O Centro de Cuidados aos Dependentes Químicos (CCDQ) é um
centro do governo do estado que oferece tratamento gratuito aos dependentes e
seus familiares, através de internação para repouso ou desintoxicação,
consultas médicas, oficinas, atividades em grupo e reunião com as famílias. A
demanda pode ser espontânea ou por encaminhamento médico. “Nossa determinação é
tratar o dependente para que ele não precise voltar, para que não tenha uma
recaída. Por isso tratamos não apenas o paciente, mas a família inteira. Temos
um leque de profissionais que atuam na área médica e psicossocial”, explicou
Zélia Simão de Miranda, diretora do CCDQ.
Dona
Maria Auxiliadora, 48 anos, é dependente de álcool e chegou ao CCDQ com
escoriações nos braços e pernas, após cair dentro de casa por causa dos efeitos
da bebida. Ela foi levada pela sobrinha
Helaine Moraes, que resolveu ajudar a tia após receber o pedido de tratamento.
“A gente da família sofre muito assistindo a pessoa definhar aos poucos, além
do preconceito de muitas pessoas que não entendem que isso é uma doença. O CCDQ
é uma luz pra gente que não tem condições para pagar um tratamento. Aqui somos
bem recebidos e temos o atendimento necessário para o tratamento. Estou
confiante na recuperação da minha tia”, afirmou Helaine.
Parceria com a ONU
O
trabalho do Governo do Pará no combate às drogas credenciou o estado para
receber o primeiro Núcleo Amazônico do Escritório das Nações Unidas sobre
Drogas e Crime (Unodoc), que trabalha nas áreas de saúde, justiça e segurança
pública. O lançamento foi feito em maio deste ano pelo representante da ONU,
chefe do escritório da Unodoc no Brasil e Cone Sul, Bo Mathiesen. “Sabemos que
o Pará e a Amazônia possuem características peculiares e são regiões cobiçadas
e muito vulneráveis. A criação do Núcleo viabilizará bases sólidas para
pesquisas, investimentos e uma cooperação para prevenir a violência e para que
possamos lutar por uma sociedade mais justa”, concluiu Bo Mathiesen.
O
escritório, que será instalado em Belém no segundo semestre deste ano, tem como
principal objetivo seguir e aplicar as leis brasileiras e as normas das Nações
Unidas e das Convenções Internacionais ratificadas pelo Brasil, em matéria de
políticas públicas para a melhoria da qualidade de vida da população e a
garantia dos direitos humanos na Amazônia paraense, podendo estender-se aos
demais estados da região, por meio de instrumentos legais específicos. A
prevenção também está na pauta do governo através do Programa Nacional de
Resistência às Drogas e Violência (Proerd). O trabalho é realizado pela Polícia
Militar desde 2003 e já formou mais de 60 mil crianças e adolescentes de cerca
de 50 municípios paraenses.
As
aulas do Proerd acontecem dentro da escola e são ministradas por policiais
treinados para este fim, em parceria com o professor responsável pela turma. Os
pais também são sensibilizados pelo programa e as crianças formadas acabam se
tornando agentes multiplicadores dentro da própria instituição de ensino e
entre familiares e vizinhos. Em 2012 o programa foi institucionalizado e passou
a fazer parte do Programa Plurianual – PPA, conforme explicou o coronel Osmar
da Costa Junior, coordenador estadual do Proerd. “Agora o programa passa a ser
atividade fim da Polícia Militar, isso significa mais recursos para atender um
número maior de crianças e adolescentes. Neste ano, teremos três novas turmas
de formação de instrutores, que vai somar 150 profissionais habilitados a dar
aulas no programa, com isso pretendemos dobrar o número de atendimentos e
formar 40 mil alunos em 2013”.
Texto:
Dani Filgueiras-Secom
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