“É uma vida muito sofrida, cheia de vergonha, traumas e
violência. Estou tentando tratamento pela segunda vez e tenho certeza que vou
sair dessa”. O testemunho de José Augusto Souza, 22 anos, usuário de drogas
desde os 12 anos, resume a vida de quem está preso ao círculo vicioso e
prejudicial das drogas. Um mal tão presente na vida da população mundial que
ganhou um Dia Internacional de Combate às Drogas, dia 26 de junho. O jovem de
Santa Luzia do Pará é um dos internos do Centro de Cuidados ao Dependente Químico
(CCDQ). Ele foi levado para o tratamento por familiares, mas que tem plena
consciência de que a iniciativa tem que ser do próprio usuário. “Sei que só
depende de mim. Tenho uma vida pela frente e pretendo vivê-la de cara limpa”, disse José Augusto.
José é
um dos cerca de 230 milhões, ou 5% da população adulta mundial (de 15 a 64 anos
de idade), que já utilizaram alguma droga ilícita pelo menos uma vez na vida,
de acordo com o Relatório do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime,
divulgado nesta terça-feira. Além disso, o Relatório aponta que os usuários
problemáticos de drogas, principalmente as pessoas dependentes de heroína e
cocaína, totalizam cerca de 27 milhões, cerca de 0.6% da população adulta
mundial, ou 1 em cada 200 pessoas. A falta de dados dificultam a estimativa de
números no Brasil, mas segundo o relatório, é perceptível o aumento de consumo
de cocaína no território brasileiro, um problema que atinge diretamente a saúde
e a segurança pública do país.
As
drogas são um problema instituído e para combatê-la é necessária uma união de
esforços entre governo e sociedade civil organizada. Menos de 50% dos estados
brasileiros têm políticas estabelecidas sobre drogas. O Pará instituiu um
sistema sobre drogas que antes era chamado de Conselho Estadual de
Entorpecentes e atualmente é intitulado Conselho Estadual Sobre Drogas (Coned),
um órgão colegiado e autônomo, vinculado à Secretaria de Estado de Justiça e
Direitos Humanos (Sejudh). Segundo Sandro Diniz, presidente do Coned, a mudança
não aconteceu apenas na nomenclatura, mas na própria estrutura do conselho, que
era basicamente governamental, e passou a ser paritário, com 11 membros do
governo e 11 da sociedade, incluindo ex-usuários de drogas. “Nosso estado é um
dos poucos do país em que existe essa paridade no conselho. Isso é um ganho
para toda sociedade que pode participar tanto da discussão, quanto da
implementação da política sobre drogas no estado”, reforça Sandro Diniz.
O
conselho se reúne semanalmente para discutir diversos temas, que vão desde a
avaliação das comunidades terapêuticas aos projetos que deverão ser
implementados no estado, pois para conseguir subsídio federal é necessário o
aval positivo do Coned, que tem o papel de organizar, aplicar e fiscalizar
todos os assuntos referentes às drogas no estado.
O Pará
possui ainda uma Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE) especializada no
combate ao tráfico de drogas. No ano passado a DRE, através da Operação
Metástase, conseguiu desarticular uma rede de traficantes de drogas que agia no
Pará e no Amazonas e era responsável pelo escoamento do carregamento de cocaína
na região. Os traficantes usavam a rota fluvial para transportar a droga que
saía de Manaus, passando por Parintins e entrava no Pará por Santarém, passando
pela ilha do Marajó até chegar à Região Metropolitana de Belém, onde o
entorpecente era manipulado e distribuído a outros traficantes de drogas. No
total, foram presas 20 pessoas durante a primeira e segunda fase da operação.
“Com uma delegacia especializada temos mais qualidade no
serviço e mais resultados na apreensão. Conseguimos trabalhar com um grupo de
inteligência e ser mais precisos em nossas operações. Vivemos em um estado com
dimensões continentais, precisamos nos especializar cada vez mais no combate ao
crime organizado. Este ano teremos novos investimentos do governo e deveremos
transformar a delegacia em divisão de combate às drogas e nos equiparar à
estrutura de outros estados que estão mais avançados nesta área”, explicou o
delegado Hennison Jacob, titular da DRE.
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