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quarta-feira, março 02, 2011

O porto do Espadarte

O início dos anos setenta, o governo do general Emílio Garrastazu Médici decidiu explorar a Serra dos Carajás, que, ainda hoje, é considerada a maior província mineral do mundo, tal a enorme variedade e quantidade de minérios ali encontrados, como o ferro, por exemplo, cujos estudos indicavam a existência de mais de 200 bilhões de toneladas, o que fazia daquela mina a maior mina de ferro do planeta. E para explorar essa riqueza, o governo deu à Companhia Vale do Rio Doce o direito de lavra e criou o chamado “Projeto Grande Carajás” para administrar a logística de infraestrutura, como a implantação de uma ferrovia para o transporte do minério até um porto que deveria ser no litoral, num local de grande profundidade e que permitisse a atracação de navios de grande calado.
Era 1973. Havíamos assumido a presidência do Diretório Central de Estudantes da UFPA e a questão do porto chegou ao DCE, que, naquele tempo, era o único do Pará e cujo conselho era composto, também, pelos presidentes dos diretórios acadêmicos dos cursos básicos e profissionais e do presidente da Federação dos Esportes Universitários do Pará. E, sob a coordenação do então acadêmico de Arquitetura Euler dos Santos Arruda foi elaborado um estudo sobre o assunto e que embasou o documento encaminhado ao então presidente Médici, pedindo que o porto de exportação dos minérios de Carajás fosse implantado no chamado porto do Espadarte, na “ponta da Tijoca”, em Curuçá, no nordeste paraense, até porque os estudos do DCE indicavam que a sua profundidade era semelhante à do porto de Itaqui, na baía de São Marcos, no Maranhão. Ademais, era inconcebível que os nossos minérios fossem exportados por um porto fora do Pará. Infelizmente, porém, sob a justificativa de que o “Espadarte” não tinha nenhuma infraestrutura portuária, o governo decidiu-se pelo porto de Itapuí, que, efetivamente, já operava e que após ser ampliado e modernizado passou a receber as milhares de toneladas de ferro pelo trem da Vale, que, graças ao contínuo aumento no número de vagões, hoje é o maior trem de carga do mundo, fazendo de Itaqui o segundo porto do Brasil, com a movimentação de 110 milhões de toneladas.
Mas, eis que o porto de Itapuí está quase exaurido na sua capacidade de armazenagem, bem como de carga e descarga. E talvez por isso, muito se tem falado que a Vale estaria estudando a possibilidade de transformar o “Espadarte” num outro porto de exportação de minérios, o que, aliás, seria muito bom para Curuçá e para o Pará, além de realizar um sonho do passado.  Daí a lembrança do início dos anos 70, quando, ainda como universitário e presidente do DCE da UFPA defendiam a tese de que os minérios de Carajás deveriam ser exportados pelo porto do Espadarte. Todavia, os tempos são outros e hoje tenho dúvidas sobre a viabilidade técnica-ambiental desse projeto, uma vez que a costa oceânica onde se situa o porto do Espadarte, é constituída de várias ilhas que integram a reserva extrativista “Mãe Grande de Curuçá”, criada por um decreto de 13 de dezembro de 2002 e publicado no Diário Oficial da União de 16/12/2002.
É óbvio que somos a favor desse empreendimento, da mesma forma como éramos no início dos anos 70, até porque entendemos que os nossos minérios deveriam ser exportados por um porto no Pará. E como o de Vila do Conde não tem profundidade para receber navios de grande calado, resta-nos, por conseguinte, o porto do Espadarte. Mas, como fazê-lo, agora, considerando a reserva “Mãe Grande de Curuçá”, que é, segundo dizem, o berçário de várias espécies marinhas? Ademais, para que a Vale implante a ferrovia ligando a Serra dos Carajás ao porto do Espadarte, terá que construir várias pontes de concreto interligando as ilhas da região, fato que, por sí só, deve provocar uma enorme reação dos ambientalistas. Seja como for, o importante é discutir como se mitigar o impacto econômico que essa obra causará a Curuçá e a região do seu entorno.
Não há dúvida que essa discussão promete, até porque este assunto é muito específico e requer, naturalmente, muito conhecimento no campo da zoobiologia, além de muita sabedoria, para que o sonho do porto do Espadarte possa se tornar realidade.
- Nicias Ribeiro
- Engenheiro eletrônico
- nicias@uol.com.br

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