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segunda-feira, março 21, 2011

Clandestinos jogam fora metade da água de Belém

O número de pontos de lava a jato que utilizam água tratada de forma irregular na Região Metropolitana de Belém (RMB) dobrou em menos de um ano. No último levantamento feito em 2010 pela Companhia de Saneamento do Pará, eram 400 estabelecimentos; neste ano, já são cerca de 800.
Esse avanço preocupa a Cosanpa, já que 48% de toda a água produzida, quase a metade, são perdidos no caminho entre os reservatórios e as residências devido aos vazamentos e às ligações clandestinas. "O lava a jato é um dos principais vilões desse desperdício", diz o diretor de mercado da companhia, Fernando Costa Martins.
Ele explica que os proprietários não podem ser tratados como clientes porque a Lei estadual 6.929, de 12 de dezembro de 2006, prevê que postos de combustíveis e empresas de lavagem de carro só podem utilizar água de poço artesiano. "O problema é que eles não têm interesse em se regularizar e acabam encontrando uma maneira mais fácil para realizar a atividade", ressalta o diretor.
O desperdício não é o único problema causado pela irregularidade. Segundo Martins, os desvios e ligações mal feitos também provocam contaminação. "Quando eles fazem essa ligação clandestina, a água tratada se mistura com as impurezas da rua. Ou seja, a rede de distribuição fica contaminada e essa mesma água com qualidade inferior chega à casa do consumidor que mora próximo e que paga suas contas direitinho. Todos ficam prejudicados", resume.
Flagrantes: Nas ruas da capital paraense não é difícil encontrar cenas que comprovam os dados da companhia. Em uma volta pelo bairro do Marco, foram encontrados pelo menos cinco estabelecimentos que utilizam água clandestina para a lavagem de carros. Em um deles, na Travessa Timbó, é possível ver a ligação feita diretamente na tubulação da Cosanpa. "Uma mangueira jorrando água por 20 minutos representa 400 litros de água tratada jogada fora", exemplifica o diretor da Cosanpa.
Dados da Companhia mostram que somente no bairro do Marco são mais de 10 estabelecimentos desse tipo. No ano passado, várias ações da Cosanpa, em parceria com a Secretaria Municipal de Urbanismo (Seurb) e Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semma), foram realizadas na tentativa de combater tanto desperdício, mas o trabalho foi em vão. Os pontos fechados pela fiscalização voltaram a funcionar no dia seguinte. "Temos muita dificuldade em combater essas atividades porque sabemos que isso envolve um grande número de trabalhadores. Mesmo assim, estamos estudando meios para encontrar soluções que favoreçam todos os envolvidos", enfatiza o diretor.
O problema também está em casa: Em todo o país, o desperdício de água chega a 70%, mas é nas residências que a situação se agrava. Segundo a Agência Nacional das Águas (ANA), 78% do consumo de uma residência são gastos no banheiro. Uma torneira pingando permanentemente, por exemplo, desperdiça 46 litros de água por dia.
Canos furados e vazamentos em descarga de vasos sanitários também representam grande prejuízo para o bolso do consumidor. Cada segundo que uma pessoa permanece com o dedo na descarga equivale a dois litros de água desperdiçados. No banho, cinco minutos a mais com o chuveiro ligado representam mais 50 litros de consumo. "As pessoas precisam ter consciência de que a água é um bem finito e um dia ela vai ficar escassa. Nem mesmo nós, que moramos na Amazônia, estamos livres desta ameaça", finaliza Martins.
Para minimizar o problema, a empresa está ampliando a instalação de hidrômetros nos domicílios. "Com o hidrômetro, o cliente passará a pagar o valor real do consumo. Ele poderá ter controle e acompanhar o quanto de água está usando", explicou o presidente da Cosanpa, Antônio Braga. A meta é que 100% dos clientes atendidos pela companhia tenham hidrômetro. Hoje, apenas 46% das residências em Belém contam com essa ferramenta.
A Cosanpa, com o apoio do Governo do Estado, aposta na educação sanitária e ambiental como instrumentos de transformação. Por isso, trabalha com projetos e campanhas permanentes com objetivo de conscientizar o consumidor. Desde 2008, a Cosanpa leva o projeto Saneamento e Cidadania para escolas públicas e privadas do Pará. Cerca de 10 mil pessoas já participaram. Nesta gestão, essa iniciativa será ampliada. "Quem sobrevive sem água? Ninguém. Por isso tentamos levar essa situação para a população. Queremos mostrar que chega de esbanjar e gastar sem a menor preocupação", diz Lene Ursen, socióloga e coordenadora do projeto.
Conheça o caminho das águas: O Sistema que abastece Belém é complexo e custa caro. O processo começa no Rio Guamá, onde a Cosanpa mantém uma estação reservatória de água bruta à margem direita. A captação é feita por meio de adutoras. De lá, a água é levada para o manancial do Utinga, de onde é transferida para três Estações de Tratamento de Água (ETA).
A mais antiga é a ETA São Brás, que produz 1.200 litros por segundo. Ao lado do Bosque Rodrigues Alves fica a ETA 5º setor, produzindo 800 litros por segundo. A maior delas é a ETA Bolonha, localizada numa área gigantesca de 50 mil metros quadrados. Sua capacidade está sendo duplicada e vai passar de 3.200 litros para 6.400 litros por segundo. Ao todo, serão 8.400 litros de água tratada por segundo.
Depois de tratada nas ETAs e pronta para o consumo, a água segue por adutoras menores para nove setores operacionais, localizados em diferentes áreas de Belém. Nesses pontos, estações elevatórias transportam a água das adutoras para os grandes reservatórios. Daí, através das tubulações de rua, a água é distribuída para os bairros.
Bruna Campos – Secom

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