Foto: Agência Pará |
O sol ainda não raiou, a brisa fria que circula pelas ruas da cidade vazia anuncia que o dia ainda não amanheceu. Mas às 4h, o Ver-o-Peso, em Belém, já está fervendo. Por todos os lados, pessoas passam com passos apressados. Caixas de madeira apoiadas na cabeça dos homens levam e trazem a mercadoria do dia. O cheiro de peixe fresco anuncia a chegada do produto.
À medida que as embarcações atracam na “Pedra do Peixe”, as espécies vão sendo descarregadas e levadas em direção a bacias dispostas no chão. Em frente às balanças é possível escolher a melhor opção dentre piramutabas, filhotes, pescadas amarelas, douradas, bagres e corvinas. A negociação é feita ali mesmo, na chegada. “Os donos de barcos, que geralmente são os que pescam, trazem os peixes e entregam pros balanceiros. No final do dia é prestado conta do que foi vendido pro dono do barco e o balanceiro fica com uma comissão de 6% sobre a venda”, explica o presidente da Associação dos Balanceiros (Asbalam), Daniel Bandeira de Matos. O ritual se repete todos os dias.
Essa movimentação, costumeira no mercado, deve se intensificar à medida que se aproxima o dia 22 de abril, quando será comemorada a Sexta-Feira Santa. Durante o feriado, onde a tradição da Igreja Católica diz que o consumo de carne vermelha deve ser evitado, a procura pelo pescado aumenta e, com ela, a preocupação com o aumento nos preços.
PARA FORA: O Pará produz 115 mil toneladas de peixe por ano, de acordo com o Ministério da Pesca e Aquicultura. Com essa quantidade, o Estado ocupa o terceiro lugar no ranking dos maiores produtores de pescado no Brasil. Porém, apesar da grande quantidade de peixe que chega todos os dias ao Ver-o-Peso, boa parte é destinada a outros Estados brasileiros e até a outros países.
Além dos barcos e das balanças, uma fila de caminhões frigoríficos compõe o cenário das madrugadas no Ver-o-Peso. Eles ficam estacionados em frente da principal saída dos peixes, onde os barcos atracam. “Durante a semana os caminhões frigoríficos ficam aqui fazendo a carga e quando completa, eles saem”, explica o balanceiro Édson Araújo. E quando saem, os caminhões levam o pescado paraense para Estados como o Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo, Maranhão, Pernambuco, Sergipe e para o Distrito Federal.
Essa é apenas uma das formas pela qual o produto sai do Estado. Além da compra direta no mercado do Ver-o-Peso, as indústrias de pesca exportam o peixe paraense que chega nas orlas de Icoaraci, Vigia e Santarém. Apesar de também comprar o produto dos pescadores artesanais, a maior parte do peixe exportado pelas indústrias é produzida por elas mesmas. “As empresas industriais produzem, industrializam e mandam para fora do Estado”, explica o diretor executivo do Sindicato das Indústrias de Pesca do Estado do Pará e Amapá (Sinpesca), Ivanildo Pontes.
É através desse mesmo processo que o francês Daniel Cotton exporta o pescado paraense para a Europa e para os Estados Unidos. Ele trabalha para uma empresa europeia e é o responsável por fiscalizar, embalar e carregar o produto que é exportado. Nos períodos em que a quantidade de peixe é grande e que o preço está baixo, ele chega a exportar, por mês, 15 contêineres com capacidade para 24 toneladas. “O peixe que mais sai é o pardo, que vai principalmente para a Europa, Caribe e Estados Unidos. O segundo que mais sai é a pescada amarela que vai para os Estados Unidos e às vezes para a Holanda”, explica.
Para que Daniel consiga exportar essa boa quantidade de peixe, ele precisa negociar com os pescadores. “A indústria é que pesca, mas tem pescador independente que liga pras empresas e negocia o produto quando acaba a pesca. Toda vez tem briga, uns [indústrias] oferecem um valor e outros mais. Eles [pescadores] negociam o melhor valor pra eles”.
Fonte: (Diário do Pará) / Visite: e www.diáriodopara.com.br
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