- Nicias Ribeiro- Engenheiro eletrônico- nicias@uol.com.br
O programa Conta Corrente Especial da Globo News, do último domingo, mostrou a agitação em ”Serra Talhada” e nos demais municípios do sertão pernambucano, devido à construção da ferrovia transnordestina, que, agora, está em obras. E como é natural, em obras de grande porte, muitas são as pessoas que migram em busca de trabalho e outras de novos negócios. E, por óbvio, todos os hotéis estão lotados, os aluguéis triplicaram de preço e multiplicam-se a construção de casas e prédios de apartamentos. E a população local festeja, até a falta de alimento nas feiras e mercados para atender a demanda. Ninguém reclama. Pelo contrário, todos festejam essa nova realidade. E como é bom ver a alegria estampada no rosto daqueles sertanejos, que, no passado, viviam sem nenhuma perspect iva de futuro. É o progresso que chega com a certeza de que todos, agora, tem um futuro. Daí a satisfação daquela gente. E aí lembrei-me de Altamira, no centro do Pará, que também está experimentando a mesma euforia, com o início das obras da hidrelétrica de Belo Monte. E, como Serra Talhada, Altamira também vive o mesmo clima da chegada de milhares de pessoas em busca de trabalho ou de oportunidades para novos negócios, os hotéis também estão totalmente lotados, os aluguéis triplicaram de preço, os terrenos não edificados são disputados quase em leilão e nas ruas e avenidas, que outrora não passavam nenhum veículo nos finais de semana, agora tem congestionamento.
É claro que essa migração de pessoas, seja para Serra Talhada em Pernambuco ou para Altamira no Pará, deve pôr em alerta as autoridades, principalmente as que cuidam da ordem e da segurança pública, que precisam agir preventivamente. Depois, vem as áreas da saúde e educação que deverão ser reforçadas, e assim por diante. Mas, a necessidade dessas ações deve ser encarada como desafio e não como razão de retardar o empreendimento, até porque o progresso traz, também, as suas mazelas. Foi assim quando se construiu Brasília nos anos 50 e será sempre assim em todo e qualquer grande projeto, seja no sertão ou na Amazônia.
Não sei se fizeram algum estudo sobre o impacto econômico que a obra da ferrovia irá causar no sertão nordestino, mas em Belo Monte foi feito e que foi chamado de Plano de Inserção Regional de Belo Monte, cujas ações visam mitigar o impacto econômico que, por certo, ocorrerá nos 10 municípios do seu entorno e cujos recursos seriam financiados pelo empreendedor. Aliás, esse plano de inserção regional foi concluído há mais de 10 anos, após o levantamento feito por técnicos da Eletronorte e do governo do Estado, com discussão, inclusive, nos municípios da região. E é este plano que consiste no Plano de Desenvolvimento Regional Sustentável do Xingu, criado pelo decreto presidencial nº 7.340, de 21/10/2011 e com abrangência nos municípios de Altamira, Vitória do Xingu, Anapu, P acajá, Senador José Porfírio, Porto de Moz, Brasil Novo, Medicilândia, Uruará e Placas. E note-se: no art. 2º deste mesmo decreto foi criado, no âmbito da Casa Civil da Presidência da República, o seu Comitê Gestor, constituído por representantes do governo federal, do governo do Estado do Pará, dos municípios abrangidos e da sociedade civil organizada e que deveria ter sido instalado até 21/12/2010, conforme está estabelecido no art. 7º do aludido decreto.
Mas, como o Comitê Gestor do PDRS do Xingu não foi instalado no prazo estabelecido, certamente devido à posse da presidente Dilma, no início de fevereiro o ministro Antônio Pallocci, da Casa Civil, convidou o governador Simão Jatene a indicar os representantes do governo do Pará no referido Comitê Gestor, o que, aliás, foi feito de imediato, na expectativa de sua rápida instalação, fato que, infelizmente, não ocorreu até o momento e que, por certo, angustia todos aqueles que conhecem a grandiosidade de Belo Monte. Aliás, a não instalação desse Comitê Gestor até o momento é deveras preocupante, pelo fato de ele ser o instrumento que cuida de muitas das ações de mitigação do impacto econômico e social que a obra causará na região. E é isso, data vênia, que deve se debater e não o impacto ao ambiente natural, que é um fato já superado.

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