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quarta-feira, junho 15, 2011

O plebiscito de Souzel

- Nicias Ribeiro- Engenheiro
eletrônico- nicias@uol.com.br
A história nos ensina que desde o descobrimento do Brasil, em 1.500, os jesuítas sempre tiveram um papel de destaque no processo de colonização, desde o trabalho da catequese dos índios até a implantação de escolas do ensino formal dos não índios. E é neste contexto histórico, que surgem as figuras exponenciais do padre José de Anchieta em S.Paulo e do padre Antônio Vieira, no Grão Pará.
Mas eis que em 1750, o recém-coroado rei D. José I nomeou Sebastião José de Carvalho e Melo, futuro Marquez de Pombal, como Ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, e, em 1755, Primeiro-ministro do Reino, ano em que criou a Companhia Geral de Comércio do Grão-Pará e Maranhão. Todavia, como Ministro dos Negócios Estrangeiros, Pombal percebeu que na Amazônia utilizava-se a mão-de-obra indígena em quase tudo. Porém, ao contrário dos colonos, os jesuítas obtinham a cooperação voluntária dos índios, fato que o colocou em alerta.
Em 1758 D. José I é ferido numa tentativa de regicídio. Pombal age rapidamente e pune todos os inimigos do rei, fato que o fortaleceu perante o monarca, que assumira poderes absolutos. E assim, no ano seguinte, Pombal expulsou os jesuítas da metrópole e das colônias, em 03 de setembro de 1759, confiscando todos os seus bens, sob a alegação de que a Companhia de Jesus agia como um poder autônomo dentro do Estado Português e as ligações internacionais eram um entrave ao fortalecimento do poder régio.
Com a expulsão dos jesuítas, Pombal determinou que a educação na colônia passasse a ser transmitida por leigos nas chamadas “aulas régias”. Até então o ensino formal esteve a cargo da igreja. Pombal ainda regulamentou o funcionamento das missões, afastando os padres de sua administração e criou um órgão composto por homens de confiança do governo, cuja função era gerir os antigos aldeamentos. E, por fim, determinou que as vilas e povoações do Grão-Pará, que tivessem se originado de missão jesuítica, deveriam ter toponímia das vilas portuguesas. E foi assim que surgiram, no Pará, as então Vilas de Faro, Aveiro, Alter do Chão, Santarém, Alenquer, Óbidos, Porto de Moz, Souzel, Portel, Chaves, Soure, Melgaço, Benfica, Colares, Beja, Bragança, Viseu e Ourém, muitas das quais, hoje, são cidades-sedes de municípios. E foi essa identidade toponímica que, certamente, levou a professora Maria de Nazaré Paes de Carvalho a criar um projeto de intercâmbio entre as cidades luso-amazônicas, como extensão da Universidade Federal do Pará e que, a meu ver, deveria, também, ser oficializado pelo governo do Estado.
Mas, como o eventual leitor pode perceber, a antiga vila de Souzel, situada na margem direita do rio Xingu, logo abaixo da futura hidrelétrica de Belo Monte, desapareceu do mapa do Pará, uma vez que essa vila, ao ser emancipada e elevada à categoria de cidade, teve a sua toponímia mudada para Senador José Porfírio, aliás, sem nenhuma consulta a população local, que, a bem da verdade, nunca aceitou essa mudança, daí continuar chamando a sua cidade de Souzel, apesar da mudança da toponímia ter ocorrido há mais de 50 anos. Daí os nossos cumprimentos as senhoras e aos senhores deputados estaduais do Pará que, por unanimidade, aprovaram o Decreto Legislativo que autoriza o Tribunal Regional Eleitoral a realizar um plebiscito em todo o território do município de Senador José Porfírio, para que a sua população decida, pelo voto, se efetivamente deseja que a toponímia daquele município volte a ser “Souzel”, que, aliás, foi estabelecida na chamada era pombalina. E, neste caso, acredito que quase a totalidade da população deverá dizer “SIM” ao nome de Souzel, até porque é assim que o povo de lá se refere a sua cidade. E que nunca mais se faça a mudança da denominação de qualquer cidade ou rua, sem a devida consulta popular.
Mas ao se restaurar a toponímia de Souzel, que esse município participe do projeto das cidades homônimas luso amazônicas, coordenado pela professora Maria de Nazaré Paes de carvalho, que, apesar de aposentada, continua lutando para manter viva a história do Brasil colônia, especialmente da Amazônia, que, apesar dos tempos serem outros, continua, ainda, sendo colônia. Viva Souzel!

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