Na manhã desta quinta-feira, 15, moradores da vila de Alter do Chão, distante 30 quilômetros do município de Santarém, no este do Pará, lotaram a Praça do Sairódromo para a abertura oficial da mais tradicional manifestação cultural da região. O festival do Çairé congrega rituais beatos, danças, músicas, culinária e teatro, em uma programação que tem duração de cinco dias.
A festa começou bem cedo com a celebração de uma missa pelo padre José Cortes, da paróquia local, no “barracão do Çairé”, com a presença do bispo emérito de Santarém, dom Esmeraldo Barreto de Farias. Esta, aliás, foi a primeira vez que um representante da prelazia do município participou das celebrações. A Festa do Çairé, como lembrou o padre José Cortez, tem origem no período de colonização daquela região, quando do trabalho de catequização dos índios pelos padres Jesuítas, de onde provem a tradição de exortar as ladainhas - que durante o festival são feitas à noite, pelos moradores da vila, também no barracão - ainda em Latim.
Após a celebração da missa, homens e mulheres divididos em dois grupos iniciaram o segundo ritual, onde cada um apanha os mastros preparados especialmente para a festa na praia do Cajueiro, retornando em seguida para o Sairódromo, onde eles são erguidos e fincados em frente à “barraca do Çairé”. Já posicionados, os mastros são enfeitados com com folhas e frutos pelos dois grupos, em uma disputa que tem por finalidade decidir qual deles é o mais bonito.
O percurso da procissão segue com a condução do símbolo oficial do Çairé, pela senhora Maria Justa, também chamada de “saraipora”, a encarregada de carregar um dos principais ícones da festa. constituído por um semicírculo e confeccionado com cipó torcido, algodão, flores e fitas coloridas. Uma cruz no topo do semicírculo e outras três cruzes ao centro completam o emblema, representando Deus no topo e o mistério da Santíssima Trindade. “Para mim é uma honra levar o Çairé, vou fazê-lo enquanto conseguir”, disse Maria Justa, que há 28 anos é responsável pela missão de puxar a procissão levando o símbolo.
Já o ritual de colocação dos mastros simboliza a abertura da festa, os frutos simbolizam a fartura. Para Madalena Leal, uma das integrantes do grupo das mulheres, “Participar deste ritual representa alegria para mim, é uma forma festiva de louvar Deus”. Os mastros permanecem na Praça até o final da festa, quando acontece o ritual de derrubada, na segunda-feira, 19. “Participo do levantamento dos mastros, pois faz parte da festa religiosa de celebrar Deus, então faz parte da minha cultura e religião. È um momento de alegria”, diz o artista plástico, Wilde Aben-Athar.
Após o levante dos mastros, houve o pronunciamento de autoridades locais e um café da manhã comunitário. Um show do grupo Roda de Carimbó encerrou a programação do período da manhã. À noite, será realizado um ritual religioso, seguido de shows musicais. Um dos destaques da noite é o show Terruá Pará, promovido pelo Governo do Estado, que reunirá 45 artistas paraenses de várias vertentes musicais, com entrada franca. Sebastião Tapajós, Gaby Amarantos, Edilson Moreno, Charme do Choro, Dona Onete, Pio Lobato e Mestre Solano são algumas das atrações.
Manoela Viana – Secom
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