Mesmo com a decisão tomada em assembleia geral, realizada
ontem à noite, de transferir para a manhã de hoje a deliberação sobre uma
possível greve da categoria, policiais militares e bombeiros iniciaram por
conta própria uma paralisação em diversos pontos da cidade.
O movimento começou
logo depois da assembleia, realizada em frente à Associação dos Policiais
Militares da Reserva (Aspomire), na avenida Pedro Miranda, na Pedreira, que
reuniu centenas de policiais e bombeiros.
Na Base da Polícia
Militar do Tucunduba, onde ficam localizadas os comandos da 24ª, 11ª e 4ª
ZPols, pelo menos seis veículos de ronda interativa estavam parados. Segundo os
policiais, só seriam atendidos os casos de extrema gravidade.
No Quartel do Comando
de Operações Especiais, de onde saem os homens e veículos da tropa de choque,
canil e cavalaria, na avenida Alcindo Cacela, na Cremação, nenhum veículo
estava sendo liberado. Os policiais colocaram cavaletes fechando a entrada do
quartel e cruzaram os braços. Segundo os policiais, equipes da Força Nacional
de Segurança já estavam sendo acionadas, ontem à noite.
Na frente da
Seccional de São Brás pelo menos oito viaturas da ronda interativa estavam
paradas, mas os policiais se dispersaram rapidamente com a chegada da equipe do
DIÁRIO.
Segundo informações
dos policiais, também já estavam parados o 6º Batalhão de Ananindeua, a 25ª
ZPol de Benevides e o 21º Batalhão de Marituba. A decisão sobre a greve só
deveria ser tomada no final de uma nova rodada de negociações marcada pelo
governo para as 9h de hoje, no Centro Integrado do Governo (CIG), na avenida
Nazaré.
Em princípio, a
categoria não aprova a proposta que o governo apresentou em reunião realizada,
anteontem, de um aumento de 14,13% somente para os praças, deixando de fora os
oficiais. Eles querem uma proposta só para todos. Segundo o supervisor técnico
do Dieese-PA, Roberto Sena, que assessora a categoria, a proposta “tem que ser
unificada de soldado a coronel. Politicamente não dá para pensar numa proposta
que não abranja a todos”.
A categoria quer 100%
de reajuste no soldo para repor perdas de 65%, desde 1995, segundo o Dieese.
Outras reivindicações como o pagamento do adicional de interiorização, o
aumento da gratificação de risco de vida de 50% para 100%, o aumento de 100% do
auxílio moradia e creche e o fardamento no contracheque foram reivindicações
que ficaram de ser analisadas depois de março. Os policiais também exigem
coletes à prova de bala e melhorias nos alojamentos.
“O governo pagou para
ver, eles não acreditavam que seríamos capazes de uma mobilização tão grande na
capital e no interior”, afirmou o sargento Aelton Costa, um dos integrantes da
coordenação do movimento. Segundo Jeoas Santos, da Associação Nacional dos
Praças, o salário dos militares paraenses “é o 23º do país e o pior das regiões
Norte e Nordeste”.
A categoria
considerou como uma vitória a promessa do governo de publicar, amanhã, um
decreto instituindo uma comissão de negociação salarial permanente para os
policiais e bombeiros militares. O aumento proposto pelo governo somente aos
praças elevaria os salários dos soldados em mais R$ 539.
NA
ROÇA
“Se com a polícia nas ruas a gente já se sente inseguro,
imagina agora com a greve... Estamos na roça”, disse, preocupado, o vendedor de
lanches Divino dos Reis, 38, que trabalha no Paar, em Ananindeua, Região
Metropolitana de Belém. No início da madrugada de hoje, policiais militares da
7ª Zona de Policiamento que cobrem a região do Paar entraram em greve e 15
viaturas estavam paradas na garagem da ZPol.
Um mototaxista, que
não quis se identificar, contou que os assaltos iriam aumentar com a greve dos
policiais. “Com a polícia, já é perigoso: há assaltos, homicídios, entre outras
coisas. Agora sem a polícia na rua, vai piorar tudo de vez”, falou.
“Nós damos todo o
nosso sangue, mas não somos respeitados. E ainda fomos ameaçados pelo
comandante geral (coronel Daniel Borges Mendes) que falou que quem acatasse a
greve, iria sofrer represálias depois que a gente voltasse para as ruas.
Consequências estas que são transferências, dentre outras coisas”, disse um
policial, que preferiu não se identificar.
Segundo o
tenente-coronel PM Campos, “oito viaturas saíram da garagem para realizar
rondas pela área de Ananindeua”. No município de Marituba, policiais do 21º
B.P.M. também estavam parados e todas as viaturas recolhidas.
PM/PA
terá o 8º maior salário do país
A Secretaria de Estado de Segurança Pública informou no
final da noite de ontem que os batalhões da Polícia Militar sediados em
Ananindeua, Marituba e Icoaraci estavam paralisados pela greve dos militares. O
próprio secretário Luiz Fernandes Rocha mantinha contatos com os comandos
desses batalhões, recebendo informações detalhadas sobre a paralisação.
Em nota oficial, a
Secretaria de Segurança observou que, diante das reivindicações dos policiais
militares, apresentou proposta de reajuste que eleva os salários dos soldados
para R$ 2.128,80. “Com o reajuste, as tropas paraenses passarão a ter o oitavo maior
salário pago a policiais militares no Brasil”, destaca.
Os policiais
militares em greve estão ocupando os quartéis e as ZPol. Essa disposição foi
manifestada pelo comando da greve a fim de não configurar abandono de posto.
Com isso, os grevistas tentam evitar ser expulsos da corporação, como ocorreu
em 1986 com cerca de 200 militares afastados de suas funções após greve durante
o governo Hélio Gueiros.
Segundo a assessoria
da Polícia, o secretário avalia com tranqüilidade a situação, não acreditando
que o movimento se alastre pelos demais batalhões e nem comprometa a segurança
pública em Belém. Fernandes considera que a disposição do governo em negociar
com os militares não permitirá que a greve se amplie pelo Estado.
Além de acompanhar a
greve parcial em contato permanente com o comandante da Polícia Militar, Daniel
Mendes, Fernandes entrou em contato com o comando da Guarda Municipal, que
disponibilizou todo o seu contingente para a segurança da capital.
O mesmo ficou acertado com a Guarda Municipal de Ananindeua
e a Polícia Rodoviária Federal. O delegado geral Nilton Athayde e o comandante
do Policiamento da Capital, Hilton Benigno, saíram às ruas para monitorar a
situação nos bairros.
O Ciop manteve seu
funcionamento normal, bem como as tropas de missões especiais (Rotam, Choque,
COE, Canil e Cavalaria) foram acionadas para fazer o policiamento nas ruas a
partir das 22h de ontem.
Segundo a assessoria
da Segup, o comando nacional da greve dos policiais participou das reuniões com
autoridades do governo e teria destacado a boa vontade demonstrada pelo governo
do Pará em negociar.
Nos bastidores,
porém, a informação é de que o comando nacional estaria orientando os
grevistas, a fim de evitar erros cometidos nas paralisações em outros Estados. Durante
o dia, a mobilização para a greve foi organizada através de mensagens de SMS
pelos telefones celulares e via redes sociais (Twitter, Facebook, Orkut).
(Diário do Pará)
NOTA OFICIAL
Com relação às negociações para o reajuste salarial dos
policiais e bombeiros militares, a Secretaria de Estado de Segurança Pública
informou, em nota oficial, que “Dentro do limite que é possível oferecer sem
ferir a Lei de Responsabilidade Fiscal, o Governo do Estado apresentou proposta
de reajuste que eleva os salários dos soldados para R$ 2.128,80. Com o
reajuste, as tropas paraenses passarão a ter o oitavo maior salário pago a
policiais militares no Brasil”. A seguir, diz a nota, que “há uma clara
disposição do governo em negociar com os militares por reconhecer a importância
e a responsabilidade do trabalho desempenhado por estes servidores”. Por outro
lado, diz ainda o documento, “apenas os batalhões de Icoaraci (10º), Marituba
(21º) e Ananideua (6º) decidiram manter a paralisação de advertência, mesmo
após a decisão tomada em assembleia de manter-se apenas em estado de greve até
nova negociação”. Em dois batalhões, os de Icoaraci e Marituba, a paralisação
já acabou, segundo a nota: “Durou poucas horas e o trabalho começou a ser
retomado por volta de meia-noite”.
Em outro momento,
segundo a Segup, “para evitar descontinuidade de policiamento e manter a
segurança dos cidadãos nas áreas onde houve paralisação, a Polícia Civil foi
deslocada para as ruas, junto com as Tropas de Missões Especiais da PM e com
dez viaturas do Conselho de Segurança Pública do Meio Norte (Conen)”. Por fim,
a Segup diz que “o Delegado Geral de Polícia Civil, Nilton Atayde, o Delegado
Geral Adjunto, Riomar Firmino, o Comandante geral da Polícia Militar, coronel
Daniel Borges Mendes e todos os comandantes de batalhões da Região
Metropolitana de Belém também estão nas ruas para assegurar a tranquilidade da
população”.
Fonte: DIÁRIO ON LINE
(Foto: Wagner Almeida)
Um comentário:
O meu medo é os assaltantes usarem da greve para agir. Já ouvi boatos de que teriam invadido o lider.. Meu deus.... Não saio de casa hoje!!!
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