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terça-feira, dezembro 20, 2011

@ AINDA SOBRE O BARÇA: Aprendemos a lição errada

Clovis Rossi
Os jogadores do Santos, o técnico Muricy Ramalho e a maior parte da crônica esportiva aprenderam a lição errada, ao tomar a aula de futebol do Barça (mais uma) como o modelo a seguir.Não que o Barça não deva ser imitado, em especial no cuidado que dedica a sua "cantera", como os espanhóis chamam a escola de formação de jogadores. Mas o futebol que despertou tanta admiração no domingo não é alcançável pelos mortais comuns, porque só em parte é resultado de cuidar da base, incluindo nesse cuidado uma cultura de jogo admirável.
Sim, o futebol que o Barça joga não é só tática, não é só filosofia, é uma cultura futebolística inculcada desde que meninos como Messi, por exemplo, aportam a La Masía, o centro de formação dos blaugrana (azul e grená). Mas tudo isso só resulta em um futebol de outro planeta, para usar a expressão de Maurício Noriega (Sportv) durante a transmissão da partida, porque coincidiram no tempo três atletas absolutamente excepcionais, Messi, Xavi e Iniesta. Ousaria até dizer que, se Messi é o engolidor de fogo, o trapezista, o palhaço, enfim o artista que monopoliza os aplausos no circo, Xavi é o pau de sustentação da lona do circo.
Sem ele ou com ele jogando mal, o Barça continua sendo grande, mas não é de outro mundo. Prova-o o fato de que, na seleção argentina, que não conta com Xavi ou Iniesta, Messi tem sido um jogador acima da média, mas não o ser extraordinário do Barça. Ora, "fabricar" três craques mais ou menos contemporâneos é virtualmente impossível. Eu sigo o Barça, fanaticamente, faz mais de 20 anos. Em todos esses anos, o cuidado com a "cantera" foi o mesmo, o time de fato tornou-se um grande no mundo todo, mas o seu futebol, mesmo nas melhores épocas, era deste planeta, não de qualquer outro.
Tornou-se o que se está vendo quando as três amadureceram e se encaixaram à perfeição, com o inestimável auxílio de Pep Guardiola, o técnico cujo grande mérito é o de não querer ser mais astro do que seus astros. Tudo somado, a aula que os brasileiros têm a aprender não é comparar o Barça com o Santos. A comparação --e as lições decorrentes-- deveria ser com, por exemplo, Corinthians x Palmeiras e Roma x Napoli ou Valencia x Málaga, para ficar em apenas dois jogos de times intermediários deste fim de semana nos campeonatos italiano e espanhol. Quem viu o clássico paulista sem olhos de torcedor apaixonado, ficou horrorizado com a mediocridade dos dois times.
Chutões para qualquer lado, quantidade industrial de passes errados, faltas em penca, raros lances de perigo nas duas áreas. O contrário do que aconteceu nos dois jogos citados do italiano e do espanhol, que nem clássicos são. Não nego que o Brasileirão foi muito mais emocionante do que o Espanhol, limitado a duas equipes, embora ambas espetaculares. Mas a qualidade que antes tínhamos mudou-se para a Europa, junto com nossos melhores jogadores. O que há a aprender não é, portanto, tratar de imitar o inimitável, mas fazer a lição de casa, o que o Santos começou a fazer ao segurar Neymar.
Ou os nossos clubes voltam a se rechear de bons jogadores e meia dúzia de craques ou o melhor futebol brasileiro continuará disponível apenas nos torneios europeus com os emigrados da bola. Ah, não adianta rechear os clubes com retornados tipo Adriano, Ronaldinho etc. Em vez de campeonato, vira cemitério dos elefantes.

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