Mesmo com todo sucesso da atual música paraense no cenário nacional e internacional, como é o caso do tecnobrega, não há como negar que a maior referência musical do Pará é ainda o carimbó. O segredo talvez esteja na tradição: desde que foi criado pelos índios Mundurucu, o carimbó já recebeu influência dos brancos portugueses e dos negros africanos. Muito antes de ser apenas um ritmo paraense, o carimbó é uma das mais expressivas manifestações culturais do estado.
A palavra é de origem indígena, sendo o nome tirado do Tupi-Guarani “Curimbó”, de curi (pau ôco) e m'bó (escavado). A junção desses sons dá origem à expressão “pau que produz som”. A dança quase sempre segue o mesmo ritual: forma-se uma fileira de homens e outra de mulheres, um de frente para o outro. Com o início da música os homens vão em direção às mulheres e batem palmas chamando para a dança. Formam-se, então, os pares que giram continuamente em torno de si mesmos e faz-se a roda. A partir daí há várias formas da dança, que foram incorporadas ao ritmo ao longo de séculos de história. Apreciar o carimbó, um mix de sedução e expressão cultural, é sempre contagiante.
O carimbó é uma manifestação tão importante que já é reconhecida por lei. Em 3 de dezembro de 2009, uma lei estadual declarou a dança do carimbó patrimônio histórico e artístico do Pará. Além disso, já há uma mobilização desde 2006 de grupos de carimbó e entidades culturais de vários municípios para tornar esta manifestação paraense patrimônio cultural imaterial do Brasil.
Atualmente um importante representante desta manifestação no Pará é o município de Marapanim, localizado no polo turístico Amazônia Atlântica. Distante 170 km da capital Belém, Marapanim carrega orgulhosamente o importante título de capital mundial do carimbó, afinal foi nesta região que, trazido por pescadores marajoaras, o ritmo se solidificou e ganhou o nome que tem hoje. É neste município, ainda, que ocorre o mais importante festival dedicado ao ritmo, o Festival do Carimbó de Marapanim - o Canto Mágico da Amazônia, que acontece anualmente desde 2004, atraindo cerca de 30 mil visitantes. O evento inclui, entre outras atrações, os concursos de música nas mais variadas vertentes do carimbó, mostras coreográficas, festival gastronômico e o concurso da mais Bela Sereia do Festival.
Ranilson Trindade, um apaixonado pelo carimbó e por seu município idealizou o festival. Sua luta dá orgulho a qualquer paraense. “Eu nunca fiz uma composição, não sou mestre, não toco muito bem. Mas tenho o carimbó em meu coração e luto para que ele sobreviva em nossas raízes culturais, passe de geração a geração”, conta Ranilson. Ele recorda que a primeira vez que Marapanim apresentou um grupo organizado de carimbó fora das fronteiras da cidade foi em 1950. “Eu tinha 11 anos de idade e uma família de Marapanim me abordou no Centro Cultural Brasil Estados Unidos. Queria uma apresentação especial para o cônsul americano da época, o “Mister Colman”. Organizei a vinda do grupo e dancei com eles”, relembra Ranilson, emocionado com a missão que recebeu ainda menino, na época com apoio do folclorista Paulo Maranhão Filho, que tinha elos com o jornal a Folha do Norte. “Esse jornal deu ao carimbó de Marapanim muito apoio”, relata o presidente da Associação de Carimbó de Marapanim (Amatur), entidade guardiã dessa tradição cultural, que pode ser vista em outros municípios, de todo o Pará, seja no estilo “de raiz”, seja o ritmo “livre”, com interferências de instrumentos e arranjos estilizados mais modernos.
Oficinas
Visando fortalecer o Festival de Carimbó como produto turístico de Marapanim e como um forte atrativo do Pará, a Companhia Paraense de Turismo (Paratur) firmou parcerias com algumas instituições para oferecer oficinas de qualificação profissional no município, entre elas de audiovisual, moda com a temática do carimbó, fotografia, gastronomia e instrumental, neste caso percussão e criatividade. Através do Instituto de Artes do Pará (IAP), foram ofertadas as oficinas de audiovisual, que aconteceram em duas etapas (uma em outubro e a segunda no início de novembro) e a oficina de moda “Veste Carimbó”, realizada na segunda quinzena de novembro. Já a oficina de fotografia, realizada no final de novembro, resulta de uma parceria com a Associação Brasileira de Jornalistas de Turismo do Estado do Pará (Abrajet Pará).
A Abrasel – Associação Brasileira de Bares, Restaurantes e Similares do Pará é parceira na oficina de aprimoramento à gastronomia de Marapanim, que tem como carro chefe o arroz marapaniense, feito à base de mexilhão e ingredientes locais. Cerca de 40 estudantes de escolas públicas municipais participaram da oficina de percussão, aprendendo a construir, assim como os índios um dia fizeram, seus próprios instrumentos musicais, que dão vida ao carimbó.
A jovem Tainá Gomes Trindade, 13 anos, apesar de dançar vários ritmos desde criança se identifica muito com o carimbó. “Amo dançar. Consigo expressar toda a minha alegria quando eu danço e isso é muito importante pra mim”, explica a jovem, que faz parte do grupo Uirapuru, um dos mais tradicionais de Marapanim.
Jean Barros durante muitos anos foi guia de turismo de Marapanim. Apresentava aos turistas o que há de melhor naquele município, cujo significado do nome é borboleta branca ou borboleta do mar, tendo em vista a grande quantidade de borboletas que viviam na região, em especial às margens do rio Marapanim. Com o tempo passou a dançarino profissional de carimbó. Em 2006 descobriu que podia ir além inspirado pelo carimbó e se apaixonou pela fotografia. “Hoje sou fotógrafo profissional, graças ao apoio de um fotógrafo trazido ao festival pela Paratur”, conta Jean, que fez do carimbó, da fotografia e do turismo importantes instrumentos de trabalho, lazer e realização profissional, assim como muitos outros habitantes da cidade.
O Festival de Carimbó de Marapanim está previsto pra correr no mês de janeiro de 2011. Saiba mais em WWW.carimbodemarapanim.blogspot.com
Texto:
Benigna Soares-Paratur
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