Ultrapassar as barreiras sociais e utilizar a música como ferramenta de transformação na vida de jovens de diversos bairros. Essa é a meta do projeto Música e Cidadania, desenvolvido há 13 anos pela Fundação Carlos Gomes na Região Metropolitana de Belém. O projeto de extensão trabalha com a educação musical para crianças e adolescentes de comunidades carentes, em polos conveniados à Fundação. “Esta foi a forma que encontramos para levar a música a lugares distantes, para uma camada da sociedade que não tem condições de ir até a Fundação e, dessa forma, contribuir com a disseminação da educação musical na região”, explica Reginaldo Viana, coordenador do projeto Música e Cidadania.
Além das aulas de música, oferecida aos alunos, a Fundação desenvolve nos polos um trabalho focado na formação de plateia, através do contato do público com a obra em si. “Essa é uma ação metodológica, que dá continuidade ao processo de musicalização desenvolvido nos polos atendidos pelo projeto. Em paralelo ao trabalho educacional, damos oportunidade à população, de uma maneira geral, em se aproximar da música, e da cultura”, afirma Reginaldo Viana.
São quatro etapas desenvolvidas com o objetivo de aproximar a população da música em suas mais diferentes formas. No primeiro momento, o polo recebe as apresentações de “Cinema Mudo”, uma exibição diferente onde o próprio superintendente da Fundação, Paulo José Campos de Melo, reproduz ao vivo a trilha sonora de clássicos filmes de Charles Chaplin, revivendo os áureos tempos do início do Cinema.
No segundo momento, o mesmo polo recebe a apresentação de música brasileira, com apresentação de um dos mais de 60 grupos formados por alunos da Fundação. E o terceiro momento consiste na apresentação de música vocal com grupo de coral ou cantores líricos e na última etapa o polo recebe a apresentação de música de câmara. “Esta é uma dinâmica que utilizamos para fazer com que esse público tenha contato com o universo mais trabalhado da música. A ideia de formação de plateias reforça até mesmo outros projetos da Fundação, que precisam dessa formação, como o Festival Internacional de Música”, explica Reginaldo.
Para o coordenador, este tipo de ação vai além da formação de plateia. O projeto Música e Cidadania acaba ultrapassando seus limites de inclusão social ou de entretenimento, para tornar-se um caminho para a profissionalização. “Nesse momento sentimos que desperta interesse na população, inclusive faz com que muitos pais acabem matriculando seus filhos para terem aulas de música”. Desta forma, o número de profissionais que iniciam a carreira aumenta. “Muitos alunos que iniciaram um estudo da música são oriundos do projeto. A grande maioria que começa por influência dos pais, hoje já tem nível superior e muitos deles já até saíram do país. A música torna-se uma possibilidade em um mundo muitas vezes escasso de oportunidades”, afirma o coordenador.
O projeto atende cerca de 900 alunos em seis polos conveniados com a Fundação: Sociedade Beneficiente Cristo Redentor (Coqueiro), Lar de Maria (São Brás), Cidade de Emaus (Benguí), República do Pequeno Vendedor (Condor), Lions Club (Benevides), Associação Paraense de Deficientes – APPD (São Braz).
Na prática
Na última segunda-feira, 30, o polo da Sociedade Beneficente Cristo Redentor, no Coqueiro, participou de mais uma etapa do projeto e recebeu a apresentação do grupo de choro “So Nata”, formado por alunas do Conservatório Carlos Gomes. Os alunos e a comunidade local tiveram a oportunidade de participar de uma tarde com muita música e troca de experiência.
Para a coordenadora do polo, Estela Cruz, esta é uma oportunidade única para a formação das crianças e adolescentes. “Esse é um projeto muito importante para nossos alunos, pois dá a eles uma visão diferente de mundo. Trata-se de um projeto que tem uma continuação, uma formação profissional. Tanto que temos muitos alunos que continuaram seus estudos na Fundação, muitos foram pra universidade e temos até casos de alunos que iniciam uma carreira internacional”. Como Thiago Costa, que iniciou seus estudos através do projeto no polo Cristo Redentor e hoje realiza pós-graduação na Espanha.
Para quem está iniciando os sonhos também são ambiciosos. Como é o caso de Paulo Roberto Barra, de 17 anos. Há cinco anos no projeto, o jovem não tem vergonha em revelar que iniciou seus estudos por pressão da família, mas hoje sabe exatamente onde quer chegar. “Me apaixonei pela música desde o primeiro dia de aula. Hoje já ampliei meus estudos e inicio a formação técnica pela Fundação. Mas meu sonho é me tornar doutor em música para poder ajudar minha comunidade e ajudar a outros jovens a oportunidade que tive”, afirma.
O coordenador do projeto reforça o compromisso da Fundação com a disseminação da música entre a sociedade. “Somos fomentadores de cultura e precisamos cada vez mais investir em questões didáticas, educacional e oportunizar o contato da população com esse universo musical”.
Angélika Freitas – Secom
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