Dizem que para ser jornalista não é necessário diploma ou técnica. O mais importante mesmo é a vocação e, sobretudo, a paixão. Mesmo que esses dois pontos de vista dividam opiniões há tanto tempo, alguns profissionais podem comprovar essa teoria. Um deles é Daniel Piza: advogado por graduação, mas jornalista por vontade própria.
O paulista Daniel Piza pensou em seguir a carreira diplomática enquanto estava na faculdade. Mas a partir da metade do curso, já escrevia textos sobre literatura, arte e cinema. Há 20 anos, trabalha para o Estadão e alega que não sente “um minuto de tédio na profissão”. Entre as obras de Daniel Piza estão os livros “Jornalismo Cultural”, “Machado de Assis – Um Gênio Brasileiro” e “Amazônia de Euclides”. E é sobre as experiências adquiridas neste último livro, em especial, que Daniel Piza vai falar em Belém, durante a XV Feira Pan-Amazônica do Livro, que acontecerá no período de 2 a 11 de setembro, no Hangar, Centro de Convenções e Feiras da Amazônia. O jornalista participará do encontro literário no espaço "Coliseu das Artes", com a palestra “Euclides da Cunha na Amazônia: o paraíso continua perdido?”.
O jornalista repetiu a viagem de Euclides da Cunha, em 1905, quando foi designado para liderar uma comitiva de reconhecimento do rio Alto Purus e estabeleceu um retrato do que viu na Amazônia, no início do século XX. Pouco mais de 100 anos depois, Daniel Piza refez o trajeto de Euclides da Cunha e estabeleceu comparações entre a Amazônia dos anos 2000 e a dos anos 1900. Comparando as duas viagens, o jornalista afirma que a expedição dele e de sua equipe foi relativamente melhor que a de Euclides da Cunha, apesar de a Amazônia ainda ser um lugar de difícil acesso: “O acesso foi um pouco melhor, já que usamos barcos mais velozes e eu estava com o pessoal do Projeto Cidadão, que leva documentação aos ribeirinhos, o que me permitiu me aproximar bastante deles, em especial dos índios das mais diversas aldeias. Sofremos com piuns, calor, chuvas, dormir na rede, etc, mas Euclides sofreu muito, muito mais. Viajou com o rio Purus em baixa, teve malária, tomou caldo de macaco (...). A geografia humana, em outras palavras, mudou muito mais que a natural, pois se trata de uma das regiões mais preservadas da floresta”.
Além de resgatar a história de um dos maiores escritores brasileiros, a viagem e, posteriormente, o livro de Daniel Piza, também buscam amadurecer o debate sobre a Amazônia, já que ela muitas vezes é vista como uma “mina de ouro” ou como um santuário que deve ser intocado. Segundo o jornalista: “A Amazônia é vista em bloco, como uma coisa só, e não na sua diversidade”, relata Daniel Piza.
Daniel Piza é um autor que trabalha com visões de mundo e diferentes realidades. Desde os 13 anos, devora os clássicos da literatura. Seu interesse pelos livros acabou ajudando em uma maneira muito particular de analisar o mundo. Piza mistura o olhar sutil e irônico de Machado de Assis, a forma poética de tratar dos mais diversos assuntos do jornalismo literário americano e o gosto de Schopenhauer de se interessar mais por “ler o mundo do que ler livros”.
O jornalista tomou gosto pelo jornalismo escrevendo sobre artes e suas mais variadas vertentes. E apesar de ser apaixonado pelo que faz, Daniel Piza reconhece que a crítica cultural passa por uma fase complicada. “É uma crítica cada vez menos independente, cada vez mais sujeita à agenda do mercado, escrita de forma pouco criativa. O crítico deveria ter como missão primeira lutar pelo espaço da reflexão numa vida cada vez mais acelerada, numa sociedade em que há muita informação e pouco contexto, muita dispersão e pouca profundidade”. Daniel Piza vem para a XV Feira Pan-Amazônica do Livro dividir com o público suas experiências como crítico, como viajante e, sobretudo, como um apaixonado pelo que faz.
Ascom Secult
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